sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os Nossos Poetas




CANSAÇO
Trago o passado no rosto envelhecido
e o cérebro embotado das idéias.
No peito, o olhar fundo, embrutecido.
Com estes elos faço uma cadeia
onde me movo mas não me sinto
e já deixei morrer a ânsia de lutar.
"Não há liberdade", penso! E minto
a mim mesma, sem vontade de pensar.
Perdi-me neste mar, cansada, nesta solidão,
neste vazio cheio de esp'ranças vãs...
Perdi a vida vivendo uma fracção
desse mundo que habita as manhãs
dos que confiam e lutam por viver
um dia mais, um instante fugaz.
Aqui estou eu, morta sem morrer
porque recusei lutar... não fui capaz.
Paula Amaro

PROFETISA DE SAGRES...in Paris 02.01.2009
Voltei ao chão varrido de brisa
A poeira a ladrilhar-me a alma
Corredia fugidia ao tempo ventania
Voltei ao lugar onde o chão desliza
Onde tudo cheira a fresco e maresia
Reina a paz o amor e a calma
Ermo sangrento de um silêncio absoluto
A terra debruçada sobre o mar
Os olhos tão negros de luto
A alma a soluçar
Daqui partiram naus e caravelas
As mais nobres árvores a boiar
Ficaram imortais em tuas telas
Quase todas foram a naufragar
Pedaço de chão tão nu de vida
De peito aberto sobre o oceano
Pontão de sonho e de partida
Sentimento nobre tão estranho
Mirante esquecido da natureza
Ermo sangrento de solidão
De ti muitos seguiram ao engano
Sem saberem sua razão
Desperto poder da realeza
Daqui não há lugar que se não veja
Promessa amarga de heroicidade
Quem parte já parte na incerteza
De nunca poder contar toda a verdade
No teu solo ergui minha vontade
De ver donzelas chorosas
Bravas mulheres de luto negro
Carpindo sentidas nessa dura saudade
Que lhes roi de esperanças desditosas
E tenacidade sonho e medo
Azul de mar suas águas revoltosas
Voltei a Sagres prometida
O templo de que sou deusa mar e terra
Voltei a Sagres já sem vida
Daqui deste lugar não há saída
Daqui deste ermo chão da serra
Moura dama musa poetisa
Sou dona e senhora profetisa
Ana Conceição Bernardo

Colo o teu olhar de menino,
...ao meu sorriso ,
Entrelaço o meu no teu esboçar
leve de lábios traquinas,
E no teu abraço...
as sensações voam no indiscritivel.
Navego no calor arrepiante,
...em cada toque teu!
Sonho a (e)ternidade num momento,
No curto espaço de tempo ,
em que me sinto viva...
Estrelas do céu se abraçam como flores,
No mais completo colorido arco-iris,
Esvoaçando sobre mim um céu
em esplendor de azul...
A música idilica de gestos,
atordoa todos os meus sentidos,
... que já perderam o sentido de tudo!
Suave é a brisa que brinca
em nossos sorrisos... de meninos!
Congelo este tempo...
em que as palavras ficam aquém,
... das sensações!
Cristina Correia

A SEM-RAZÃO DE NÃO MAIS TE TER
Conta-me com adjectivos sôfregos
como ficar aqui de gestos vazios,
sem o gosto das tangerinas,
sem o sabor a pão da tua boca.
Conta-me como impedir a sombra
que se estende desordenada sobre as manhãs,
como deixar de bailar os olhos
que se cerram
no que foi a limpidez dos sonhos.
Não sei se o oceano fica longe
nem como se corta a rima num poema,
fico aqui…
ancorado no meu olhar
percorrendo o vento em linha recta.
Aqui, onde as luas me rondam as mãos,
as letras têm asas
e o sabor a ti se eternizou nos meus lábios.
Francisco Valverde Arsénio

Me curvo ao sentimaento.
Na penumbra da noite que me acalenta,
me curvo ao sentimento,
com respiração em descompasso e coração
murmurando de paixão,
saboreio uma lágrima com emoção,
e olho-te o corpo já adormecido.
Ali...Tão desprovido de resistência física,
com teu silêncio me sussurrando que o amor
é o elixir da alma.
E neste ensejo que me pertence,
protejo-te da ousadia da lua,
que adentrando por minha janela,
acaricia-te o corpo desnudo.
Deusa Orquídea

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